Dia
desses estava em casa fazendo uma encomenda de biscuit quando faltou material.
O tempo estava meio chuvoso daí resolvi ir de ônibus até o shopping Paralela.
Como fica pertinho de casa, achei (tolinha que sou) que não seria muito “arriscado”. Chegando
no ponto, logo avistei um “AEROPORTO”. A mulher que aguardava o ônibus,
acompanhada de um garoto e de sacolas, gritou “esse passa... dá com a mão, pivete!” Já fiquei meio assustada.
Tomando a
frente ela gritou: “Ô cobradooor, esse
vai pela Paralela?” Ele acenou com a cabeça que sim. Logo pensei, “que sorte!” e subimos no ônibus. Pela
porta da frente, entrou um baleiro declamando seu mantra (politicamente
decorado) com aquele sotaque bem baianês:
- Boa tarde, pessoal. Desculpe incomodar o silêncio
de vocês mas é que ‘chegou’ as deliciosas balas de menta com recheio de
chocolate. Na minha mão, uma é 30, duas é 50 e quatro é um real. Vamos curtir a
viajem, pessoal, ‘chupano’ essas deliciosas balas de menta com chocolate.
Comprar por comprar, ‘cê’ compra ‘ni’ qualquer lugar, mas compre ‘ni’ minha
mão, ‘pa’ me ajudar!!
No
próximo ponto, outro ambulante, dessa vez vendendo (acreditem) escova de dente
(Oi?).
- Boa tarde motorista, cobrador e senhores
passageiros. Chegou a novidade em Salvador! São essas maravilhosas escovas de
dentes. Tem de todas as cores: azul, amarela, verde, laranja, vermelha e
rosa... como essa coisa linda aqui... (fala apontando a escova de dente pra uma moça que
está em pé no corredor). E continua (ainda olhando pra garota)... “essa aqui gatinha, vai deixar seu dentes no
grau, pronta pra receber beijo na boca. Aí fora vocês não vão encontrar
esse produto por menos de 3 reais, mas em minha mão, vocês levam três
escovas por apenas 5 reais. Mete mão, que é promoção!!” (Oi?)
A menina
ficou toda serelepe e a colega falou: “aêêhhh se
armou, hein Suelem?”. “Suelem, é sua mãe!” respondeu a menina.
Quando
chegou em “Pituáço” uma galera que estava no fundo invadiu o corredor do buzú.
Uns, se apertaram e conseguiram descer pela porta da frente, em meio a olhares
de alguns passageiros tentavam cochilar, encostados na janela, mas a
maioria ficou aglomerada no meio do coletivo, quando começou a gritaria:
- Abre o meio, motô! Tem gente querendo descer. Abre aí, rapá!!!
Quem está
acostumado a pegar coletivo, sabe. Quem geralmente senta próximo à janela, são
aqueles que pegam o ônibus ainda vazio na estação e fazem todo o trajeto até o
final de linha. Os que sentam no “fundão”, geralmente é a galera da bagunça.
Gostam de fazer batucada e/ou de colocar músicas no celular pra todo mundo
ouvir. A traseira do coletivo é também, preferência dos casais de namorados. Já
a frente é o lugar preferido das crianças, preferencial para idosos, obesos, gestantes e também,
é o lugar onde os passageiros carregam sacolas, caixas, isopores e etc.
Logo, que
a galera desceu alguns passageiros se acomodaram nas cadeiras vazias, inclusive
a senhora que encontrei no ponto. Ela fez uma cara de felicidade, não fosse
pelo fato do buzú fazer a curva e seguir em direção a orla. Eu, estática fiquei,
totalmente sem entender. Ele não havia respondido que o ônibus era via Paralela?
Pensei. Antes que eu pudesse aprumar as ideias a mulher bradou estarrecida:
- Porra é essa, cobrador? Tu não falou que essa
zôrra era via Paralela?? Seu filádaputadamizera. Agorra barriô! Eu só
tinha essa “passage”. E agora? Vou pra casa como?
- Mas é cada uma... nego vai me 'gritano', num dá nem um 'boa
tarde'? Né assim não, véi. Tá ‘pensano’ o quê? E filádaputa não, filádaputa não!!! Bradou o
cobrador.
-Porra é essa, cobra? Que caô do carai foi esse, pacêro!
Sacanagem aí com a tia! Falou um rapaz que estava sentado ao lado da catraca.
- Sacanagem o escambau! Né assim que a banda toca não! Tem que tê
humildade!” Continuou o cobrador.
- Pois tu vai devolver minha porra de meu dinheiro,
seu istopô! Gritou a mulher insana.
Enquanto
isso, alguns passageiros começaram a gritar: “bora viado, vai começar o jogo, caralho!” “arrasta, motô“, “leva essa
zorra, motorista”, “tira o pé do freio, motô, que hoje é domingo!”
Eu de
fininho, como também havia acreditado no infeliz do “cobra”, desci com minha
cara de paisagem. Maldita hora que deixei Mileide
em casa. Atravessei a pista e fui paletando até o próximo ponto pra deixar de
ser idiota. Humpf...
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