sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Sofrência.

E o médico perguntou:
- O que te trazes aqui? O que sentes?
- Sinto lonjuras, doutor. Sofro de distâncias.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Um passeio no INSS - Parte I

Como é de domínio público, sofri um pequeno acidente e precisei fazer uma cirurgia para reconstrução dos ligamentos do joelho direito. A cirurgia seria indispensável e mais delicada do que eu poderia imaginar, há 4 meses atrás quando sofri o acidente. Confesso que achei que fosse apenas um deslocamento de rótula, no momento da queda e, foi somente no dia 10 de maio, que fiquei sabendo da gravidade da minha lesão.
O médico, Dr. Marco Baqueiro, profissional experientíssimo, entrou no quarto no dia seguinte a operação e exclamou:
- O que foi isso, menina? Que queda foi essa? Seu joelho estava destruído!!! Abri achando que seria sério, mas o trauma foi maior do que eu pensava!! Que queda, hein?!
Prova disso foi a cirurgia que durou 4 horas, mas felizmente no dia seguinte já estava de alta e começava minha peleja: aprender a ter PACIÊNCIA.
A fisioterapia só pôde começar um mês depois, pois no 16º dia, após a retirada dos pontos, o local abriu, devido a um edema em um dos pinos. Meu cabelo começou a cair muito e fiquei muito inchada. Sentia dores terríveis nas pernas e na coluna, no local da anestesia. Não podia dormir de lado, muito menos de bruços. Usei aparadeira durante três semanas e a hora do banho era terrível! Sentar na cadeira de banho era uma tortura, vestir a roupa então, uma verdadeira gincana. Tudo era difícil. Tudo era muito dolorido. Um dia, voltando da fisioterapia, escorreguei na garagem. A sorte é que estava apoiada no ombro do Curico. Mesmo assim, finquei sem querer a perna operada no chão e o joelho inchou na hora. Doeu muito. Não toquei o pé no chão o resto da semana. Foi muito sofrido. Engordei 7 quilos após a cirurgia e não havia nenhuma roupa que coubesse. Nenhuma sandália ficava confortável.
Com o passar dos dias, fui ganhando força. No primeiro dia, não conseguia tirar o pé do chão sem a ajuda das mãos. Perdi os músculos da perna direita e com isso, toda a força necessária para fazer os exercícios. Não conseguia sentar ereta, subir na maca, colocar o pé sobre o skate. Dobrar o joelho, nem pensar!! No início da trigésima sessão, comecei a aprender a caminhar apenas com uma muleta. Estava ótima e ganhando confiança! Foi quando a fisioterapeuta resolveu forçar mais um pouco e introduziu um pesinho de 1/2 quilo nos exercícios. No dia seguinte não pisei no chão. Cheguei no consultório com duas muletas novamente e ela bradou: -  O que é isso, Cleo??? O estrago já estava feito. Passei mais 3 dias sofrendo de dor, enquanto ela forçava o joelho na tentativa de não perder a dobradura da semana anterior. Não deu outra, voltei pro médico com uma tendinite e em conseguinte pros anti-inflamatórios/injeções à base de corticóide. Voltei praticamente à estaca zero. Dr. Marco suspendeu os exercícios e receitou mais 10 sessões de fisioterapia anestésica. Isso foi há cerca de 15 dias. Na sexta-feira passada voltei para a revisão. Ele me liberou novamente (durante 6x por semana) aos exercícios e ainda me prescreveu 2x por semana, sessões de hidroterapia.  Haja dinheiro pra tanto taxi!!! :(
No ensejo, aproveitei e perguntei quanto tempo ele estimava para a minha recuperação, pois precisava voltar pra casa, pro trabalho e pra minha rotina. Ele me deu mais 90 dias e transcreveu tudo num relatório, que eu deveria entregar na segunda perícia do INSS, dia 13/08, mais precisamente HOJE.
- Mais 3 meses, doutor? Tudo isso??
- Você não perdeu apenas uns ligamentos, Cleane, você sofreu um trauma, portanto, precisa de tempo e disciplina pra se reabilitar. Você não têm a mínima condição de voltar a trabalhar, por enquanto. Tem que ter paciência! Logo, logo, quem sabe até você não poderá fazer a fisioterapia em casa!?
- Mas Doutor, não vou precisar de exames novos? Questionei.
- Não há necessidade. A ressonância por si só fala tudo. No mais, tá tudo aqui no relatório. 

Hoje, cinco horas da madrugada já estava de pé. Não preguei os olhos à noite, imaginando passar pela humilhação chamada PREVIDÊNCIA SOCIAL. Minha última experiência tinha sido uma catástrofe. Fui tratada como um repolho na última perícia. Estava com todos os documentos, exames e o relatório médico (com a previsão de afastamento de 6 meses). Deferiram 2 meses. Tava fud*** com curativos e o local ainda inflamado e a criatura mal olhou na minha cara. Hoje foi ainda pior. Como todo castigo pra corno é pouco, aquele Exú ainda apertou meu joelho inflamado. Perguntou se não havia nenhum exame pós-operatório e não tocou no relatório médico. Perguntou o "por que" de eu estar com duas muletas e quase que eu respondi que era "moda". Expliquei que estava com tendinite e ele pediu o exame que comprovaria o que eu estava dizendo. 
- O médico não fez. Apenas examinou e prescreveu a medicação. Respondi.
Antes que eu terminasse a frase, ele mandou eu me dirigir a outra sala para ser examinada por outra perita.
- Colega, olhe aqui esse caso... ligamento... veja aqui... tem 3 meses de operada.
Ela pediu meu RG e retrucou sobre o cadastro. Informou que o nome da minha mãe estava divergente da minha identidade. Retrucou sobre o sobrenome e perguntou se eu tinha dois nomes? Apresentei o documento comprovando que era separada e só assim ela começou a digitar. 
- Não devia fazer sua perícia, pois seu cadastro está errado! Mas, já está pronto! A senhora pode aguardar o resultado lá fora.
Meia hora depois...
- Dona Cleane... assine aqui onde está o "X". Bradou o atendente.
E logo no primeiro parágrafo estava lá: 
IN-DE-FE-RI-DO AUXÍLIO DOENÇA - APTO(A) PARA AS ATIVIDADES LABORAIS.
Na hora me deu uma miséria ruim por dentro, uma espécie de dor de barriga... Já estava suando, nervosa com o tratamento daquelas duas criaturas. Saí de lá meio atordoada. Voltei pra casa com uma terrível dor de cabeça e fiquei sem saber o que fazer.
Mais tarde, resolvi ligar pra formiga-irmã. Ela já havia trabalhado no call center do INSS, certamente, poderia me orientar.
- Formiga-irmã, aconteceu isso, isso e isso. O que é que eu faço agora?
- Bom, você pode solicitar uma reconsideração do seu pedido, apresentar novos exames e outro relatório médico atestando sua incapacidade pro trabalho, mas eu duvido muito que eles defiram. Lá é mais ou menos o seguinte, se você está com uma perna lenhada, mas ainda tem a outra perna, tá apto pra trabalhar. Afinal, saci só tem uma perna, não é mesmo?? E caiu na gargalhada.
- Sem brincadeira, formiga-irmã e se eu der entrada no pedido de reconsideração e for indeferido novamente? E aí?
- Daí você volta pro trabalho ainda mais endividada e ainda  perde os dias que ficou aguardando nova perícia...só se o sistema mudou...
- Então não tem jeito. Tô num mato sem cachorro. O que eu faço agora, pelamordedeus???
- Você pode pegar o busú Terminal da França ou Comércio/Lapa, que é mais vazio, pedir ao motorista pra descer no ponto do TCA e seguir sentido a praça do Campo Grande, pra CHORAR NO PÉ DO CABOCLO!!! Aproveita que você está usando muletas. Dá pra entrar pela frente. Se der sorte, é capaz do cobrador nem ir até você registrar a passagem! (Oi????)

Merece os aplausos.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

PRESSA.

Hoje acordei introspectiva. Pensativa, mais reflexiva do que o usual. A caminho da fisioterapia fui olhando a orla. Vi pessoas correndo, crianças brincando, surfistas... e muitos carros buzinando em ritmo frenético. Antes de abrir o sinal, os carros que estavam atrás já estavam buzinando pedindo passagem. Todos com pressa.
Chegando na clínica a recepção estava lotada. Todas as cadeiras ocupadas e um senhor (bem mais velho que eu) cedeu gentilmente o lugar para eu sentar. Duas horas e meia depois, eu aguardava o último aparelho para terminar minha sessão do dia, quando uma senhora sentou-se ao meu lado puxando conversa.
Ela: - Estou cansada de esperar. Estou aqui desde dez horas da manhã.
Eu: Silêncio.
Ela: - Você falta que aparelho?
Eu: - Ondas curtas.
Ela: - Eu também. Você chegou depois de mim, não foi?
Eu: - Estou aqui desde as nove e meia...
Ela: - Não senhora!! Cheguei primeiro do que você. Eu vi a hora que você chegou e sentou próximo à cadeira de rodas. Eu estava conversando com minha filha ao celular e era exatamente dez e dois (se referindo até aos minutos).
Eu: Cara de paisagem. (lembrando que havia sentado em outro lugar, após assinar a autorização do exame, cerca de meia hora depois que havia chegado)
Ela: - Minha filha, eu sou a próxima né? Estou com pressa! Perdi a manhã inteira aqui e não resolvi nada do que eu tinha pra fazer hoje. Esse povo daqui é muito lerdo. A gente perde uma manhã pra fazer uma bobagem. (bradou com auxiliar da fisioterapia)
Auxiliar: - Ela é a próxima! Ela chegou primeiro do que a senhora. (apontando pra mim)
Ela: - Chegou nada!!! Vi muito bem a hora que ela chegou! Eu sou a próxima!!!!
Silêncio enquanto as atendentes se entreolhavam. O aparelho ficou vago e a atendente olhou para mim, esperando minha reação.
- Pode deixar ela passar em minha frente, Jô. Ela tem pressa. Eu também já tive muita um dia...
E a senhora num rompante, entrou na sala de procedimentos.
- Cleo, me desculpe. E obrigada pela compreensão. Sei que você chegou primeiro. Foi muito educado de sua parte permitir que ela entrasse, pois é muito desgastante para nós lidar com pessoas desse tipo.
- Não se preocupe, querida. Sei bem como é isso. Como falei, já tive muita pressa um dia. Já corri muito, de um lado para o outro tentando resolver os meus problemas e ainda os dos outros. Vivia com pressa. Acordava apressada, dormia pouco. Corria pra concluir um trabalho, pra entregar uma encomenda, pra servir os outros. Mas agora, não posso correr mais. Olhe aqui...(mostrando as muletas) Mal consigo andar. É isso mesmo! (risos)
Ela sorriu docemente.
Moral da história: Às vezes não adianta correr e não chegar a lugar nenhum. Tudo é na hora de Deus. Às vezes, ocorrem situações para nos dar um FREIO e fazer com que cuidemos um pouco mais de nós mesmos. Situações essas que não nos permite fugir...