Hoje recebi uma ligação de uma amiga que não via há algum tempo. Ela queria me contar sobre a sua separação. Iniciou a conversa dizendo que “eu é que sou feliz!” Discorreu sobre as vantagens que eu devo ter em morar sozinha e de ainda não ter “me amarrado” em alguém (palavras da moça). Seguiu, relatando o fracasso que havia sido sua primeira experiência em “morar junto”. No início tudo eram flores. Mal conseguiam segurar 72 horas sem se verem e isso porque ele trabalhava viajando. O caso era tão sério, que os notebooks viviam ligados 24h e dormiam com as webcams ligadas, para um acompanhar os passos do outro. Imaginavam possuir a intimidade suficiente para juntarem as escovas de dentes, mas não foi o que aconteceu. Dividiram as despesas do aluguel do apartamento, do condomínio, do chá de casa nova que deram aos amigos/familiares e por último, dividiram os móveis da casa. Desta vez, cada um escolheu o que mais lhes interessava e carregaram em malas, caixas e sacolas os objetos pessoais, além de suas frustrações e dissabores. E foi assim que se deu a separação, através do choque entre as suas idealizações e a prática concreta do dia a dia. Uma escolha um tanto quanto precipitada, não sei se da união ou da separação.
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Não é bem assim, amiga. Não é fácil viver sozinha. Mas hoje sou capaz de avaliar o que é uma expectativa imediatista e uma a longo prazo. As pessoas são de certa forma imediatistas. Querem preencher a qualquer custo necessidades das mais diversas ordens, inclusive desejos superficiais e para isso não é necessário criar “um casamento”. Basta apenas reciprocidade, cumplicidade e parceria, que é basicamente a mesma coisa. O matrimônio é um passo muito importante que exige muito amor e respeito de ambas as partes. E se o amor acabar deverá permanecer o respeito, inclusive se a separação for inevitável. Separar pode ser um ato de respeito pelo outro e por si mesmo. Nunca pensou nisso? Observe... não é muito mais digno terminar a relação do que trair e ser desleal? Difícil é um dos dois assumir que fracassou ou que os dois fracassaram, principalmente quando há tanta coisa em jogo! Todavia, em algum momento uma das partes (ou ambas) terá que reconhecer que errou, que foi intolerante, egoísta ou no mínimo imatura e com isso irá errar menos da próxima vez. Cada pessoa tem o seu tempo e seus limites e isso deve ser levado em conta. O diálogo na maioria das vezes resolve (ou resolveria) o problema.
Tudo muda quando um casal resolve morar juntos. O namoro é uma relação mais solta, onde os laços amorosos não enforcam as pessoas. A coabitação faz muitas vezes a relação perder a aura de surpresa, saudade e romantismo. A intimidade diária faz com que muitos não suportem as individualidades do outro e daí surgem as crises. Fora que a convivência para muitas pessoas é algo sufocante. Já estão acostumadas com a liberdade e a não serem cobradas por outra pessoa, ainda mais pelo ser amado, de quem só se espera conivência.
Há ainda os que entendem que, “se o parceiro(a) já estava acostumado(a) naquele ritmo de autonomia, seria dispensável o cuidado, a participação e o zelo.” Há ainda, casais que não compartilham as responsabilidades, o que considero um erro. Uma das parte se sente como hóspede e tudo é o outro que tem que resolver, mesmo quando os dois trabalham fora e dividem as despesas. A mulher é quem ainda mais sofre com a falta de divisão de tarefas. E isso inclui as compras, o mercado, dirigir na volta da festa (isso ainda implica ficar sem beber sua cervejinha, rs), sem mencionar filhos (não vou nem entrar nessa seara).
Pior que isso é quando o homem reclama da falta de vaidade da mulher e da sua falta de tempo (foi o que aconteceu com minha amiga). Fica muito difícil mesmo se cuidar, ainda mais quando ela se esforça para dar conta de tudo sozinha.
Mas o homem também sofre... observe uma mulher insegura, que evita festas, não consegue viver em sociedade... possivelmente, se o cônjuge for do tipo alegre, comunicativo (e compreensivo), acabará se anulando para evitar aborrecimentos. As afinidades são essenciais para a boa convivência, nem adianta me dizer o contrário!
Os casais devem ter consciência que terão um caminho a trilhar de direitos, deveres e lazer. Se compartilham tudo podem se equalizar e diminuir as separações. Devem saber conciliar o lado individual, do casal e da família, não necessariamente nesta ordem. É preciso deixar muito claro as prioridades do casal e caso haja somente prioridades individuais, repensar se esse é o momento de tomar um passo mais sério. Acho que não foi bem o que aconteceu com minha amiga.
Nota da autora: Força, flor! Mais bagagem para ti... apenas isso! ;)