quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Porque é (foi) feliz quem não sabe escrever.

Quem não sabe escrever é quem teve infância. É quem brincou de esconde-esconde, de salada mista, de amarelinha, de pião, de gude, de peteca, de pega-varetas, de boca de forno... e não, quem ficou da janela, olhando escondido as crianças brincarem. Muito menos, quem tinha hora pra tudo e viveu controlado a todo momento.
Quem não sabe escrever assistiu ao “Domingo no Parque”, não perdeu um capítulo de “Chispitas” e não deixou de assistir nenhuma apresentação (tarde da noite) dos Menudos, porque tinha aula de português no dia seguinte.
Quem não sabe escrever teve uma infância sem muitas responsabilidades. Sem aulas de piano, de ginástica olímpica, de inglês e de caligrafia. Também não aprendeu a cozer, nem cozinhar, nem arear panelas, nem como lustrar os móveis ou pregar um botão, tampouco como engomar um colarinho. Não aprendeu a arrumar gavetas e um guarda-roupa, e a organizar os brinquedos depois da brincadeira. Nunca soube como elencar os gibis por ordem de edição e nem como forrar os livros do colégio com plástico transparente. Nunca se preocupou em devolver os lápis de cores que tomava emprestado do colega, nem o apontador ou a borracha. Nunca teve a mochila verificada pelos pais quando chegava da escola, nunca ficou de castigo estudando a tabuada e sem assistir ao programa da Tia Arilma, nem teve sua bola de vôlei e micro system escondidos quando tirou uma nota abaixo da média. 
Também não teve problemas familiares... nunca ficou triste com o pai, nem com a mãe, a ponto de ficar horas e horas a fio trancado no quarto escrevendo em seu diário. Qual a criança solitária que não teve um diário, daquele inclusive, com cadeadinho? Era lá que seriam registrados as mais adversas situações do cotidiano... aquela bronca injusta da professora, aquela ameaça do playboyzinho da escola, o romance guardado em segredo... tudo registrado a lápis ou caneta.

Tudo na vida tem um preço e definitivamente, não se pode ter tudo. Mas há coisas que não tem preço ($)! Quem teve infância, perdeu grandes chances na vida (ou vice e versa?). Mas foi (irresponsavelmente) feliz um dia, ao menos um dia.

Nota da autora: Intencional a contradição. Vale refletir.

3 comentários:

  1. BOM DIA AMIGA, OBRIGADA PELA VISITA!
    Adorei o que escreveu...realmente é assim:
    "Tudo na vida tem um preço e definitivamente, não se pode ter tudo. Mas há coisas que não tem preço ($)! Quem teve infância, perdeu grandes chances na vida (ou vice e versa?). Mas foi (irresponsavelmente) feliz um dia, ao menos um dia." Obrigada por compartilhar e feliz fim de semana! Abraçãooo

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  2. Gostei do texto, mas concordo com ele só em parte.
    De certo que um certo grau de "sofrimento" acaba servindo de alavanca para despertar a sensibilidade necessária para boa escrita em alguns, mas não é só na dor que sentimentos digamos "inspirados" vêm à tona traduzindo-se em verso e prosa, a alegria também o faz, por que não? O amor, a amizade, etc. Traduzir os melhores pensamentos que se tem um palavras é de fato um do, mas eu não acredito que a descoberta deste tenha como condição necessário dor, sofrimento, angústia e seus derivados.
    Gostei muito do seu blog!
    Abraço!

    http://jacifoiodiscovoador.blogspot.com

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  3. escrever é bom por isso, porque mesmo nao concordando, achei muito boa a mensagem,uai

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