Essa é a palavra mais apropriada para o que estou sentindo. Vergonha.
Agora há pouco vinha chorando no ônibus. Chorei copiosamente andando pela rua e por mais que tentasse parar, foi inútil. Mais uma vez me senti pequena, frágil, sozinha. Me senti uma formiguinha. Não sei. Há dias em que é assim. Imagino que isso deva acontecer com pessoas normais, com gente simples, feitas de carne e osso.
Fiquei triste sim. Fiquei triste, porque comecei a pensar na minha vida e em quantos leões eu tenho que matar por dia. Acordei cedo. Saí com duas horas de antecedência para um exame e ainda tinha que estar em jejum. Cheguei meia hora antes do horário marcado (conforme orientação da clínica) e fui atendida "uma hora e meia depois". Me senti desrespeitada. Fiquei observando a atendente explicar que a médica estava "presa num engarrafamento". Ora... eu também peguei engarrafamento, e ainda de ônibus. Mas, por saber que tinha compromisso, acordei às cinco e meia da manhã. Sei que ninguém tem nada a ver com isso e que imprevistos acontecem (e como eu mesma digo, imprevistos não marcam hora na agenda) mas teria mesmo o atraso da médica se dado por um imprevisto? Entrei na sala tão chateada, que até esqueci de pedir o atestado de comparecimento. Saí da clínica e parti para o dentista.
Cheguei ao consultório por volta das dez e meia e sabe que hora eu fui atendida? Uma da tarde. Isso mesmo. Uma e quinze mais precisamente (é importante não esquecer os fatídicos quinze minutos). Dessa vez tudo bem... o dentista coitado, também estava sem almoçar e imagino que ele também não tinha feito sequer um lanche, pois desde o momento que pisei os pés no consultório, não parou de entrar gente. Mas outro fato aumentou meu desapontamento. Fui a última a ser atendida e ele já estava com pressa. Nessa presa, quase que não observou que meu dente havia inflamado (o mesmo que havia tratado com ele na quarta-feira passada) e ainda insinuou que havia sido "falta de cuidado". Por parte de quem, cara pálida? Por minha parte? Quer dizer que gosto de sentir dor?
Vida que segue, reclamou que eu deveria ter tomado os remédios que ele "sequer havia receitado". Ele havia receitado outros remédios (oi?). Olha, eu estava tão chateada, com tanta dor que mal tive forças para retrucar. Saí do consultório com minha a lista de antibióticos e parti pra farmácia. Não consegui comer nada sentindo dor e ainda fui recomendada a ingerir os remédios o quanto antes. Abri o choro. Não tive forças para mais outra coisa além disso.
Cheguei ao consultório por volta das dez e meia e sabe que hora eu fui atendida? Uma da tarde. Isso mesmo. Uma e quinze mais precisamente (é importante não esquecer os fatídicos quinze minutos). Dessa vez tudo bem... o dentista coitado, também estava sem almoçar e imagino que ele também não tinha feito sequer um lanche, pois desde o momento que pisei os pés no consultório, não parou de entrar gente. Mas outro fato aumentou meu desapontamento. Fui a última a ser atendida e ele já estava com pressa. Nessa presa, quase que não observou que meu dente havia inflamado (o mesmo que havia tratado com ele na quarta-feira passada) e ainda insinuou que havia sido "falta de cuidado". Por parte de quem, cara pálida? Por minha parte? Quer dizer que gosto de sentir dor?
Vida que segue, reclamou que eu deveria ter tomado os remédios que ele "sequer havia receitado". Ele havia receitado outros remédios (oi?). Olha, eu estava tão chateada, com tanta dor que mal tive forças para retrucar. Saí do consultório com minha a lista de antibióticos e parti pra farmácia. Não consegui comer nada sentindo dor e ainda fui recomendada a ingerir os remédios o quanto antes. Abri o choro. Não tive forças para mais outra coisa além disso.
Passei na farmácia, gastei uma grana e não podia deixar de lembrar da imagem do dentista, praticamente me chamando de negligente. Chorei ainda mais. E vim chorando durante todo o percurso para casa. As pessoas me olhavam e eu tentava me esconder atrás dos meus óculos escuros. O motorista corria muito e o ônibus tombava. O dente latejava. Até que cheguei no meu ponto. Desembarquei num ponto improvisado na Paralela, onde a prefeitura está construíndo (há não sei quantos anos) ou tentando construir uma passarela. Fiquei quase na pista esperando o sinal fechar para atravessar a rua, quando olhei para o lado e vi a cena que iria mudar o meu dia. Eu vi um cadeirante. Tudo bem, diariamente cadeirantes trafegam pela cidade e vocês devem estar pensando: o que há de mais nisso? Só que eu tenho certeza que esta foi a maneira que Deus encontrou para falar comigo. Isso mesmo! Deus conversou comigo através daqueles dois homens.
Não foi só o cadeirante que chamou minha atenção (um senhor, com aproximadamente uns quarenta anos) mas também o homem que o acompanhava, um jovem negro, forte e muito simpático. Ambos estavam muito bem vestidos. Sorridentes, conversavam afetuosamente. Pelos traços físicos, pareciam irmãos. E se não fossem consanguíneos, certamente eram irmãos de amizade, de coração e de fé. Eles se aproximaram de mim, como que para facilitarem a travessia. O sinal demorou a fechar. Coloquei a bolsa na frente tentando me proteger do sol, quando ele finalmente fechou. Do outro lado da pista, não havia rampa para deficientes. Ao contrário, haviam três enormes degraus (que dão acesso ao canteiro central) que para uma cadeira de rodas mais parecia uma muralha. Pensei em oferecer ajuda, mas rapidamente lembrei do meu dente inflamado. Mais rápido ainda foi o homem, que em segundos virou a cadeira de costas e com muita força a puxou para cima, antes mesmo do sinal abrir. Imediatamente lembrei da sensação que senti no ônibus e agradeci. Senti novamente vontade de chorar só que desta vez de emoção.
Não foi só o cadeirante que chamou minha atenção (um senhor, com aproximadamente uns quarenta anos) mas também o homem que o acompanhava, um jovem negro, forte e muito simpático. Ambos estavam muito bem vestidos. Sorridentes, conversavam afetuosamente. Pelos traços físicos, pareciam irmãos. E se não fossem consanguíneos, certamente eram irmãos de amizade, de coração e de fé. Eles se aproximaram de mim, como que para facilitarem a travessia. O sinal demorou a fechar. Coloquei a bolsa na frente tentando me proteger do sol, quando ele finalmente fechou. Do outro lado da pista, não havia rampa para deficientes. Ao contrário, haviam três enormes degraus (que dão acesso ao canteiro central) que para uma cadeira de rodas mais parecia uma muralha. Pensei em oferecer ajuda, mas rapidamente lembrei do meu dente inflamado. Mais rápido ainda foi o homem, que em segundos virou a cadeira de costas e com muita força a puxou para cima, antes mesmo do sinal abrir. Imediatamente lembrei da sensação que senti no ônibus e agradeci. Senti novamente vontade de chorar só que desta vez de emoção.
Como já conhecia o trajeto imaginei como aquele jovem conseguiria atravessar o canteiro e a segunda pista, vez que o caminho é cheio de pedras soltas e de buraços. Próximo a outra sinaleira, o caminho é estreito e há uma espécie de ponte feita de blocos de concreto, sobre uma enorme vala por onde escorre a água das chuvas. Como por milagre eles conseguiram empurrar a cadeira sobre a pequena ponte. Me deu um aperto no estômago quando vi a cadeira enganchar e perceber que uma das rodas laterais estava meio que "pendurada". Mas o homem conseguiu com muita habilidade e força, sustentá-la e atravessá-la, mantendo o cadeirante em segurança.
Os carros passavam com muita velocidade e o limiar entre nós era somente o meio-fio. O sinal finalmente fechou e o cadeirante se voltou para mim e disse: "Moça, cuidado. Sempre que você for atravessar se certifique que todos os carros pararam! O mundo é muito perigoso."
Então é isso. O mundo é muito perigoso e só vencem os fortes! Agradeci e vim para casa pensativa. Deus falou comigo, é verdade! E eu, que há poucas horas atrás, pensava que tinha motivos suficientes para chorar. Me sentia sozinha e até meio que desamparada. Tolinha.
Então é isso. O mundo é muito perigoso e só vencem os fortes! Agradeci e vim para casa pensativa. Deus falou comigo, é verdade! E eu, que há poucas horas atrás, pensava que tinha motivos suficientes para chorar. Me sentia sozinha e até meio que desamparada. Tolinha.
Nota da autora: Quantos leões aquele bravo homem não haveria de matar por dia? Vale a pena (eu mesma) refletir.
Lágrimas!
ResponderExcluirSua capacidade de auto avaliação e sensibilidade me encantam.
Por isso que Deus tão rapidamente se comunica com vc, para mostrar que apesar de tudo vc é muito amada por ele e veio a este mundo com a missão de mostrar que é realmente possível SER HUMANO!
Amo vc, fica bem, tudo vai passar!
Você também me encanta, minha pequena grande menina. Fico feliz por saber que minhas palavras de certa forma criam opiniões. Não que eu tenha pretensão em sempre agradar, mas é muito bom quando isso acontece. Prova de que realmente procurarmos ser pessoas melhores a cada dia vale à pena.
ResponderExcluirAmo você também. Obrigada por ser minha amiga e leitora.
Cleo Miranda.