sábado, 21 de abril de 2012

Trinta e cinco.

Eu não sei explicar em que idade a vida começa de verdade, só sei que para mim ela parece estar começando agora, depois dos trinta. Não que apagar velinhas signifique muita coisa mas a experiência que essa convenção me trás, é que me parece significativa. 
Não sou preconceituosa com os jovens mas percebo que a cada dia estou menos paciente. Não tenho mais tempo a perder. Com o passar dos anos enxergamos melhor as coisas, ficamos mais calmos, mais seletos e temos menos pressa para algumas coisas. Observamos mais, aproveitamos mais, aprendemos mais. É como se nosso cérebro estivesse mais "afiado" para sabermos usufruir certos prazeres que a vida tem a nos proporcionar. Mas há um paradoxo nisso tudo, sabe por que? Porque com o tempo vamos deixando de fazer certas coisas, de aproveitarmos certas coisas. Quer um exemplo? Lembra aquele velho "bate e volta" no São Pedro? Aquela viagem sem hospedagem certa e com o dinheiro contado? E aquelas noites perdidas que você ainda ia trabalhar de "virote"? Te parecia bom, não é? Mas isso ficou para trás. Com a idade, aprendemos a dar valor a palavra "conforto". As multidões e aglomerações não são mais uma diversão para você. Nem mesmo aquela festa "lotada", "bombando" te parece divertida. Aliás, nenhum lugar em que você precise pegar fila para entrar e para sair. Os círculos de amizade vai ficando cada vez menores. Você percebe que até para conseguir conciliar um dia para um churrasco entre amigos é complicado. Por várias questões: trabalho, estudo, filhos, etc. A maioria dos seus colegas estão casados. E os separados, estão como você. Os solteiros, nessa faixa etária (em regra), são problemáticos. Você agora, prefere ficar em casa. A rua não tem mais os mesmos atrativos. Desfilar pelos barzinhos da moda não tem mais nenhum encanto. Nem sair pela noite fechando boates com os pés apertados no salto alto. Aquele restaurante chique e barulhento, não te enche mais os olhos. Você prefere um lugar mais tranquilo, com uma companhia agradável, onde você possa falar e ser ouvido sem precisar fazer esforço. Mas um dia você ouve de alguém que está "ficando velho" e resolve sair na night para beber umas e outras. Observa os casais e os solteiros... e nota que a maioria parecem bêbados, exibidos e estúpidos. Você não tolera nada que altere a sua consciência. E percebe que nenhuma daquelas pessoas merece te conhecer melhor. Você não tem mais tempo a perder. E por um momento você se pergunta: que merda eu tô fazendo aqui? E sente saudade de seu chuveiro, de sua cama quentinha e cheirosa... será que você não está muito intolerante?
E tenta um teatro, um cinema, uma viagem. Mas percebe que você tem outras prioridades. E sua segunda graduação? E sua pós? E o inglês? Seu dinheiro não é capim para você jogá-lo fora com qualquer bobagem. Então você percebe que está cada vez mais exigente e se afastando mais da realidade, do que você vê. Porque o mundo infelizmente é feito de futilidades. De pessoas que valorizam mais o que você tem, do que o que você é de verdade. E daí você se pergunta: e o que eu sou de verdade? Se eu sou tão especial assim, tão bom assim, então por que eu não tenho sorte? E o que é ter sorte? É ter um carro do ano? É ter um apartamento com piscina? Um(a) namorado(a) para mostrar a sociedade?
Mas a gente estava falando de coisas boas... 
Nesse momento você já tem em mente uma lista do que é aceitável e do que não é para você. Mas ninguém tem resposta para tudo. Nem mesmo com trinta e poucos anos. Você olha para os erros que cometeu no passado e percebe que cada vez mais eles estão se distanciando. Mas e você? Você também não está ficando para trás? Não resta mais saída. O jeito é continuar avançando, vivendo um dia de cada vez. Aproveitando o "hoje" porque o amanhã é incerto. E porque a todo momento nossa vida parece instável. Nunca estamos 100% seguros do que queremos. Porque crescemos, a verdade é essa. Estamos sempre em busca de alguma coisa. 
Mas o certo é que você aprendeu a se amar. A se respeitar e respeitar seu espaço, seu corpo, suas opiniões. Você não é mais "Maria vai com as outras". 
Ficar sem sair no final de semana não é o fim. Não ter algo programado pro feriadão não é a morte. E mais: ficar em casa numa sexta-feira à noite não é falta de opção e sim uma escolha! Aliás, ficar em casa ouvindo Sade e bebendo um vinho te parece a melhor coisa do mundo! E se for bem acompanhada, melhor ainda. ;)

Nota da autora: Sim, eu tenho trinta e cinco.

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