quarta-feira, 23 de março de 2011

Divã.

Confesso. Estou só o bocal. Saí as oito da manhã e estou chegando em casa agora (22 horas). Estou só o pó!

Hoje dei aula o dia todo. Passei o dia inteiro praticamente em pé e estou exausta. Acho que ainda não me recuperei do trabalho do carnaval. Saí do curso e ainda peguei o maior engarrafamento até a Garibaldi. Finalmente criei coragem e marquei consulta numa clínica especializada para tratamento da obesidade. Foi indicação de Suzana, amiga minha do trabalho (obrigada Su pela força!). Ela fez cirugia e está feliz da vida. Me recomendou a clínica, me deu cartãozinho e me explicou os procedimentos. A primeira consulta na realidade é uma palestra, ministrada pelo médico cirurgião responsável, para pacientes e seus acompanhantes (o paciente poderá levar uma pessoa, caso resolva fugir, rs). Depois disso dá-se início ao tratamento, explicou didaticamente minha amiga Suzana e ratificou em seguida a atendente da clínica, por telefone.

Havia marcado de ir com minha amiga Beyoncé, mas ela correu do pau. Brincadeirinha Beyoncé... hoje é aniversário de casamento da bonita, por isso em vez de ir à clínica, ela deve ter ido no "Fogo de Chão" adquirir mais umas calorias. Jogue duro amiga!!!

Bem, voltemos a minha incursão ao médico... cheguei com facilidade na clínica, exceto pelo engarrafamento. As referências de Suzana foram "batata" e não tive dificuldade em encontrar o prédio. O manobrista parou o carro e eu me senti a própria. "Pôxa, manobistra e as porra!" Coisa de baiano, né? Mas foi assim mesmo que pensei. Entrei, entreguei o cartãozinho do "pranservi" e sentei pra aguardar. Inevitável os olhares; meus em direção as pessoas em volta e das pessoas em volta em minha direção. Fiquei em silêncio observando. Havia pessoas MUITO gordas, outras nem tanto. Alguns conversavam como se já se conhecessem. Foi quando constatei que realmente havia pessoas que se conheciam. Duas mulheres conversavam sobre a cirurgia bariátrica e uma delas explicava que já havia emagrecido 45 quilos. Foi quando percebi que, quem estava alí e não era gordo, teria sido gordo um dia. Me deu um certo alívio no coração pois eu não estava tão discrepante das demais. Comecei a me encontrar. Daí, um homem que chegou em seguida teceu o seguinte comentário:
- Aqui tem até manobrista pra facilitar a vida dos gordos! Já pensou a suadeira da gente pra manobrar o carro num estacionamento apertado desse? (Oi?)

Seria mesmo esse o objetivo da clínica em contratar um manobrista? Me pus a pensar. Até que a atendente me chamou e me encaminhou para a sala de reunião. Entrei na sala e havia apenas uma cadeira vazia me esperando. Todas as outras cadeiras estavam ocupadas a maioria por gordinhos tamanho "GG". É, no meio da sala, eu era uma gordinha tamanho "P" e por um momento me senti estranha. Os gordinhos e gordinhas me olhavam e uma moça chegou a perguntar quanto eu pesava. Em seguida ela comentou:
- Queria ter um corpo lindo assim que nem o seu! (Tóin)

Não sabia se ficava feliz ou triste. Estava confusa. Entrou um rapaz com a farda da clínica, distribuiu umas pranchetas com um questionário minucioso e umas canetas. Em seguida foi chamando o nome das pessoas da lista, pedindo para que tirássemos os sapatos e fóssemos pra forca, digo, pra balança. Não vou mencionar aqui o meu peso para não desapontá-los (quáquáquá), porém insinuo que após a pesagem (parece coisa de gado, né? pe-sa-gem... nominho feio...) conclui que estava no lugar certo. O rapaz ainda nos mediu e anotou tudo na ficha. Depois disso a fisioterapeuta entrou na sala, cumprimentou a todos e perguntou quem estava alí por causa da bariátrica. A maioria levantou as mãos e então ela perguntou quem sentia dores na coluna ou na região lombar. Eu, coitada, que me virava de um lado pro outro procurando uma posição menos dolorosa pra minha dor nas costas, levantei timidamente a mão. Preenchemos mais um questionário que depois o rapazinho passou para recolher. E demorou. E eu já estava com fome. E já tava ficando nervosa. E já queria matar gente. Até que a atendente veio nos tapear dizendo que o médico estava um pouquinho atrasado, mas estava a caminho (detalhe, um pouquinho era coisa de uma hora de relógio, cara de pau da atendente, picálámão). Até que um gordinho (tamanho GG) sugeriu uma pizza. (Oi?) Disse que era a "nossa despedida do mundo dos gordos"... gargalhada geral. Não vou mentir que naquela altura, valia qualquer coisa. Tinha almoçado ao meio-dia metade da minha "maumita" e tava sem comer até uma hora daquela: sete e cachorro lascou a boca! Qualquer Mc'Donald me divertia. Bom, mas não ia ser simples assim. Fechando a boca o médico entrou na sala. "Só um minutinho!" Disse ele saíndo novamente da sala.
- Mais um minutinho? Bradou o gordo da pizza tamanho GG.

Olha meu povo... pense num monte de gente gorda reunida, com fome, dentro de uma salinha pequena esperando pra falar da coisa que gordo não suporta: dieta+atividade física X comida+sedentarismo? Era a visão do inferno!!! Eu já procurava uma porta de emergência para sair à Francesa. Eis que o médico entra e fecha a porta da sala. Pronto! Agora já era! Ele coloca uns envelopes na mesa e eu com meu olho biônico, enxergo logo o meu nome no envelope de CIMA. "Jesus, me abana!"

Coração batendo que nem zabumba, o médico começa a falar. Ele começa explicando todos os problemas gerados pelo sobrepeso, pela obesidade, os tipos de obesidade e suas causas. Disse que a obesidade é uma doença e que como tal, deve ser tratada. Explicou sobre a cirurgia de redução do estômago, suas consequências e o perfil necessário para o paciente que deseja ou necessita fazer a cirurgia. Citou os procedimentos pré e pós-cirúrgicos e mencionou as dificuldades e preconceitos sofridos pelos obesos e sobre o estilo de vida das pessoas que sofrem com o excesso de peso. Mas o que mais me chamou a atenção foi quando ele falou que não há tratamento eficaz pra obesidade. Ele disse que dificilmente uma pessoa com tendência a obesidade consegue emagrecer e manter o peso por mais de um ano. Isso caiu como um tsunami na minha cabeça. Sabia que já havia tentado várias dietas e tudo o que eu queria ouvir era uma palavra de incentivo. Na realidade queria ouvir o seguinte:
- "Se você quer emagrecer e nunca mais engordar sem precisar de cirurgia, nos lhe ensinamos como!"

Sim. Queria ouvir isso, e daí? Você que é magro pode criticar. Fique quase trinta quilos a mais de seu peso e depois me procure! Ah tá! Humpf...

Deixando a malcriação de lado, vamos retomar o raciocínio... bom, acontece que ele abriu espaço pra perguntas e daí é que foi coisa. Cada pergunta que só Deus na frente da causa! Criei coragem e perguntei também. - Olha doutor, já tive numa clínica de obesidade. Fui orientada a procurar um endocrinologista, procurei, fiz todos os exames e isso faz um ano. Não engordei, mas também não emagreci. Minha família por parte de pai é quase toda obesa e algumas tias, inclusive, já fizeram redução de estômago. Minha irmã é diabética, meu pai hipertenso e eu ansiosa. Depois do que o senhor falou sobre "não existir tratamento eficaz para obesidade" fiquei preocupada. Quer dizer que estou confinada a ser gorda e meu futuro é uma cirurgia? (Oi?)

Todos pararam, olharam para o médico, que ficou meio atônito sem resposta. Titubeou e respondeu "coisa com coisa". Mas tudo bem. Estava determinada a mudar meus hábitos naquele momento. Se tivesse que passar o resto da vida comendo folha, viraria herbívora. Tava determinada. Pois é. Gorda eu não morro! Gordinha, talvez. Mas gorda GG jamé-jamó-jamais!!! Questão de honra. Serei a exceção! Profetizei.

Ato contínuo, o doutor começou então a abrir os envelopes. "Ai, meu Deus, que é que ele vai fazer agora?" Pensei.
- Cleane Miranda...ele chamou.
- Aqui. Levantei a mão.
- Seu IMC (índice de massa corporal) está abaixo do exigido para cirurgia. Você pode procurar agendar com uma nutricionista para marcar uma avaliação... Sr. fulano da Silva...42 de IMC. Está aqui sua lista de exames. Nos encontraremos na próxima reunião, tal dia, tal hora... Sra. fulana de Souza... 37 de IMC. Está aqui sua lista de exames. Nos encontraremos também na reunião com a equipe...

E desse jeito ele foi chamando um a um, até que restou o último envelope. Detalhe: eu era a única gordinha tamanho "P", quase magra da sala. Imagine? Só EU não estava na margem de ir para a mesa de cirurgia. Me senti uma Miss. Mentirinha. Na realidade fiquei meio constrangida. Mas de certa forma foi bom, pois cada um sabe onde seu sapato aperta. Embora todos estivessem muito mais acima do peso que eu, isso não me deixou feliz. Fiquei triste por saber que minha jornada é longa e que possivemente algumas daquelas pessoas estariam mais magras do que eu, em muito menos tempo. Não foi inveja, juro. Não gostaria de me submeter a uma cirurgia nem por decreto. Mas o fato é que emagrecer é uma luta constante e sei que a solução é mesmo virar herbívora. Humpf...

Tudo bem. Por enquanto citarei o mantra de "Os Barões": ...é gordinha, mas é gostosa! É gordinha, mas é gostosa...

Quáquáquáquáquá. Perco o amigo, mas não perco a piada! Vou é dormir, que já é quarta.

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