quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O precioso tempo dos maduros...

Hoje aconteceu um fato que me despertou um sentimento efêmero. Chego à conclusão que a faixa etária que compreende os 30 e 40 anos é muito difícil de ser digerida por algumas pessoas. É algo parecido com a adolescência, quando somos novos demais para algumas coisas e temos idade suficiente para outras. O mesmo ocorre aqui, com sutis diferenças. Podemos sim, fazer (ou deixar de fazer) de tudo, desde que saibamos que teremos a vida inteira para nos arrepender.
Hoje enquanto bebia um cafezinho no corredor, escutei inevitavelmente três mulheres que conversavam num ritmo nostálgico. Notei certo aborrecimento, ou pelo menos certo incômodo em uma delas com a pergunta de sua colega. Elas conversavam sobre o Festival de Verão e recordavam as edições anteriores, que até o que me consta, nem faz tanto tempo assim. Exatos 11 anos, ou seja, na primeira edição, eu tinha 23; agora estou com 34 (ai, ai, ai, será mesmo que estou ficando velha? rs). Bom, mas não é a minha indignação que está em questão e sim, a da mulher do corredor. Notem o questionamento:
- “Fulana, aquela música é do seu tempo?” Indaga uma das mulheres, cantarolando certa música, como eu diria, “das antigas”... (quáquáquá)
A criatura ficou lá, com uma cara de invalidez.
Fui para minha sala e fiquei pensando na sua reação. Se antes eu ouvia (e muitas vezes até repetia) essas expressões sem a menor noção, hoje compreendo o constrangimento que elas podem causar. Analisem: sendo a referida música “do seu tempo”, além da óbvia constatação de que a música é antiga, significa que aquela mulher não é mais uma pessoa jovem, quem sabe até indigna de frequentar o Festival de Verão 2011. Pronto! A vida acabou! Puta que pariu! Game over! Sim, ela é uma jovem senhora (ou senhorita, sei lá) de aparentes quarenta anos... e eu, daqui a pouquinho, estarei (com sorte) chegando lá. Serei alijada dos futuros Festivais de Verão? Oi?
Outro dia sai com amiga minha. Ela, preocupadíssima com o público do barzinho. Não queria se sentir “deslocada no meio da garotada”. Caraca! Pelamordedeus! Quer dizer que nosso tempo acabou? Que o tempo dos balzaquianos era só quando estes eram jovens? O que acontece hoje, também não é “coisa do nosso tempo”? Quem estabeleceu a noção de tempo? Quem foi que determinou que o nosso tempo é apenas o tempo anterior aos nossos vinte e poucos anos? Como saber minha vida útil? Onde está minha tarja magnética? Cadê meu código de barras? Onde verifico meu prazo de validade? Naonnnnnnndeeeeeeee???
***
- “Olha, filha, não fica bem você contar pra suas amiguinhas, que você gosta de Roberto Carlos. Não é coisa do seu tempo. Também não comente com suas amigas, que sua mãe nasceu na época da Jovem Guarda, mas que ela curte Charlie Brown Jr. Pode pegar mal...”
Humpf...
A vida continua e ela é agora!
***
Ah. E quanto a jovem (senhora ou senhorita) do corredor, ela respondeu educadamente para a colega: “Sim, é do meu tempo.”

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