terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Separando o joio do trigo.

Hoje ao abrir minha caixa de e-mails conclui que não estou sendo “necessária” para algumas pessoas. Drama? Não. Fato. Estavam lá alguns e-mails enviados e sem resposta. Mas talvez a culpa disso seja minha, vez que (percebi que) ultimamente tenho corrido em buscas de coisas fúteis, do tamanho suficiente de meu estado (atual) medíocre de viver.
Ontem escrevi sobre minha indignação de como as pessoas idiotas levam a vida e lembrei de outro comentário que escutei sobre “a minha vida ser satisfatória”. O que é satisfatória? Qual o conceito de “satisfatório”? Subjetivo não?
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Pois bem, anteontem conversei com uma amiga, com quem não falava há algum tempo. Sorumbática, ela queixava-se das consequências de seu despudorado egoísmo. Estava triste com a perda de um amigo querido, que veio a falecer no sábado num acidente de carro e por ironia do destino, ela havia rejeitado sua ligação na véspera, por considerar que estava demasiadamente “ocupada” para atendê-lo. Aliás, me contou que não o atendeu propositalmente, pois sabia que como era sexta-feira, ele o convidaria (como de costume) para tomar uma cervejinha. Naquela sexta, porém, ela não estava disposta a dar um “não”, assim, preferiu não atender. Eis o motivo do remorso. Ela me confessou que às vezes, a depender de seu humor, aceitava o convite, principalmente se não tivesse coisa mais interessante para fazer. Gostava da sua companhia, pois ele estava sempre bem humorado (na maioria das vezes efeito do álcool), contudo nunca havia se preocupado com os motivos pelos quais ele bebia e ainda voltava para casa sem condições de dirigir. E foi assim que ela o perdeu. Sua consciência estava doendo muito e ela precisava dividir sua dor. Sentiu-se mau após fazer uma reflexão, lembrando os momentos que ele esteve sempre ao seu lado e ela, egoísta, o procurou apenas quando teve vontade. Julgava não ter tempo. Nunca tinha tempo. Domingo, porém, teve que dedicar seu precioso tempo para escolher uma indumentária preta (digna do seu estado de espírito) e acompanhar o corpo do amigo, sem vida. No momento do velório, um filme passou em sua cabeça e ela me aconselhou:“Cleo, viva intensamente cada momento de sua vida, falando e demonstrando todo amor que há em seu coração, pois muitas vezes o destino (inexorável) não nos dá uma segunda chance.”
Sempre pensei isso, mas ouvir aquela constatação, regada a uma dose cavalar de remorso e pesar me tocou profundamente. Comecei a refletir sobre minha condição. Lembrei dos meus “momentos” felizes e de como eu passava o restante do tempo correndo por minha sobrevivência, como algo mecânico. Quando buscamos algo por desejo, tudo é diferente, embora nunca estejamos satisfeitos. Alcançamos uma coisa e queremos em seguida outra. Este é o objetivo de viver, a busca incessante e constante por coisas que nos proporcionam prazer e realização.

Coincidentemente, nossa conversa aconteceu num momento crucial em que eu estava insatisfeita, com sentimento de rejeição e negligência. Adjetivos difíceis de desvincular de minha matéria e espírito. Observei se a carapuça não me servia. Não sei. Outra interrogação. Mais uma pra minha coleção de interrogações. O fato é que tentei recordar quantas vezes havia praticado aquele ato idêntico: olhar o visor do celular e fazer cara feia. Quantas vezes fiquei aborrecida e contrariada ao identificar determinado(s) número(s) no visor do celular e não atendi? Quantas vezes havia inventado desculpas (algumas vezes até mentirinhas) para me livrar de uma pessoa num momento indesejado? Pois é. A vida devolve. Implacável e tempestiva, a vida lhe devolve. Não importa o que é pior, se mentir para uma ou várias pessoas, no fundo no fundo, você não pode se livrar da maior de todas as mentiras, que é mentir para você! Não é bom encontrar um ombro amigo quando se precisa? Não é bom ouvir palavras de consolo, de reflexão e apoio, quando se está na merda? Não é bom encontrar alguém quando se precisa de alguém para te ouvir, sem vergonhas e nem críticas? Pois é.
Às vezes fazemos uso exacerbado das pessoas, pode ser na amizade, no amor, na paixão, no coleguismo, no sexo despretensioso ou pretensioso, nos conselhos... abusamos demais. Impomos a presença do outro em nossas vidas ou negligenciamos suas vontades e desejos. Não nos preocupamos com os seus sinais e não damos a devida importância para os seus sentimentos. Cumprimos rituais e promessas medíocres, muitas vezes unilaterais. Achamos que o simples fato de não tentarmos mudar o outro é um sinal de respeito, mas até que ponto observar uma falha, um erro renitente no outro (que pode causar uma dor ou um prejuízo) e não dar-lhe a oportunidade de corrigir é sinal de respeito? Quem ama zela, defende, ampara. Não apenas aceita mudanças, mas também as propõe.
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Ahh, a intensidade! Essa minha mania de querer pintar as coisas com cores muito fortes... Essa minha mania de querer incutir opiniões e pontos de vista... Ahhh, essa minha mania em querer viver na primavera...
Mas de volta aos e-mails não respondidos... Estes me trouxeram para a superfície. Percebi que trabalho com responsabilidade e afinco, mas sou somente “a profissional” durante a maior parte do dia. Durante o expediente tenho diversas utilidades e sou lembrada constantemente pelos meus colegas, mas, e no tocante das horas que sou apenas “ser humano”? Como (e) sou lembrada?
Pela dor de não receber respostas é que prometi a partir de hoje que ninguém ficará sem uma resposta minha, mesmo que esta não seja satisfatória. Não vou mais escolher a quem atender pelo visor de meu celular. Não vou mais me omitir em demonstrar cuidado com os que amo (aliás, raramente ou dificilmente o fiz). Não quero proporcionar aos outros essa angústia...
Será que estou sendo (também) egoísta ou egocêntrica? Talvez.
O fato é que às vezes me esqueço que o ano é formado por outras estações (inclusive o inverno) e que embora estejamos no verão, há dias de chuva e de tempestades. Nem tudo são flores. E como ouvi num filme certa vez: “Ninguém é feliz. Com sorte, a gente é alegre!”

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