Hoje estou mais reflexiva que o usual. Fico muito triste quando digo um “não”. Mas prometi pra mim mesma que começaria o ano dizendo “sim” para mim e quando digo um “sim” para alguém (contra minha vontade), em contrapartida estou me dizendo não.
Sofro muito isso quando se trata do meu pai. Sei o quanto ele está sofrendo e o quanto ele conta com minha ajuda. Principalmente agora, que nossos planos mais uma vez foram sabotados e minha esperança sucumbiu (será?) mais uma vez. Sinto uma enorme ressaca moral por causa disso, mas não consigo mentir pra mim mesma. Ao longo de duríssimos anos acostumei a chamar a responsabilidade de muita coisa para mim, quase tudo. Sempre que a coisa apertava era eu que estava ali para apagar os incêndios. Fazia isso às vezes sem perceber, mas confesso que hoje mudei. Não tenho mais a disposição de antes, nem o mesmo otimismo. Sinto minhas forças esvaindo. Meus amigos respondem que não, que eu aguento mais, que sou uma mulher forte e tal, mas tenho andado muito cansada. Ainda acho que ajudo de alguma maneira, principalmente quando procuro cuidar de mim, pois assim, me considero um problema a menos. Sei que muito que faço é por/pelo meu pai. Ele mudou, amadureceu e nunca desistiu de nós. Mesmo com toda dificuldade “está lá”, chega junto e isso é coisa de quem ama de verdade. Por isso é tão dolorido dizê-lo um não. Na verdade, poucas vezes vi meu pai pedir algo para ele mesmo. E ainda que peça, lá está intrínseco alguma coisa para alguém, nunca para benefício próprio. Sempre foi assim. Desde que me conheço por gente, meu pai sempre fez tudo para agradar. Talvez essa minha mania de não dizer “não” tenha sido herança dele. Ele estava sempre disposto a fazer o que necessário fosse para não se aborrecer e não desagradar. Dava uma boiada para não ver um discursão em casa. Mesmo falando disso agora, confesso que nunca o conheci muito bem. Enxergava meu pai pelo espelho de minha mãe. Ficávamos muito tempo distantes e penso que só vim conhecer meu pai de verdade quando me separei e tive de voltar pra sua casa. Idos setembro de 2000, quando peguei meus panos de bunda e voltei para o interior doente e muito decepcionada com a vida. Quando me casei pensei que seria para a vida inteira, mas a vida inteira é muito tempo. Meu casamento durou o tempo suficiente para eu me tornar uma pessoa adulta. Mas havia acabado. Faltava consumar (e de onde partiria a atitude?). E foi aí que percebi que era capaz de fazer o que precisava ser feito e que estava pronta para estar sozinha, pois eu (de um jeito ou de outro) já estava sozinha.
Foi um período difícil. Foi quando descobri que tudo na vida tem seu preço. Foi duro ter de admitir isso, mas meu casamento era um estorvo sem o qual estou muito melhor agora, mesmo ainda hoje, tendo que lutar por coisas as quais eu possuía. As coisas mudaram de lugar. Perdemos algo aqui, para ganhar algo melhor adiante, ou vice versa. O bom é que mesmo estando “só” nunca estou sozinha. Estou sempre cercada de amigos, que são a família que Deus me permitiu escolher. E como prova que Deus existe, nunca houve um só momento que eu precisasse de ajuda e ela não aparecesse. Isso tem acontecido todos os dias de minha vida. Numa hora estou chorando e daqui a minutos sorrio novamente. Tenho um anjo da guarda, que basta eu pensar, o mundo vem em meu socorro. Por isso muitas vezes me coloco em segundo plano e digo sim, sim e sim. Mas prometi mudar. E como não costumo faltar com minha promessas, estou sofrendo com estas mudanças. As mudanças sempre causam reviravoltas.
Espero que assim como eu, quem convive comigo possua senso crítico aguçado. Procure me enxergar como um todo e não como um pedaço. Perceba que devemos ser julgados pelos 99% que fazemos e não pelo 1% que deixamos de fazer em algum momento. E assim, vale a pena lutar! Ouvi outro dia isso de meu pai, quando num acesso de nervosismo fui áspera com ele ao celular. Cheguei em casa e ele estava na porta me esperando. Ele abriu os braços e disse:
- Minha filha, deixa eu te dar um abraço. Não se preocupe, filha. Seu pai te compreende e te ama. Não esqueço de tudo o que você fez e continua a fazer por seu pai. Você é a filha mais maravilhosa que um pai pode ter. (ele me desarmou)
Como não continuar lutando?
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